“- E é muitíssimo importante que todos vocês leiam O Senhor das Moscas – dizia a Sra. Avery com sua voz clara mas um
tanto monótona. – E quando o fizerem, devem fazer-se algumas perguntas. Um bom
romance é muitas vezes uma série de enigmas dentro de enigmas, e esse é um romance
muito bom, um dos melhores escritos
na segunda metade do século XX. Portanto, perguntem-se primeiro qual o
significado que a concha marinha pode ter. Segundo...” (KING, Stephen. A Torre Negra III, As Terras Devastadas.
P. 156).
Neste trecho retirado do volume
III, da série A Torre Negra, temos
uma aplicação de metalinguagem. Aqui, o autor usa da linguagem escrita e verbal
(da língua) para decodificar o código dessa mesma linguagem. Através de um
romance escrito, o autor afirma que um bom romance é aquele que traz em si
enigmas dentro de enigmas. Essa fala é da professora de redação da personagem Jake,
um garoto de 11 anos. Jake vem ouvindo duas vozes há duas semanas. Uma diz que
ele morreu e a outra diz que ele está vivo. As vozes parecem não parar de falar
e Jake acha que está perto de enlouquecer. Jake morrera atropelado ao ser
empurrado num cruzamento intencionalmente, em seu próprio mundo de Nova York
entre 1970-1980 e renasceu no Mundo Médio, o mundo que seguiu adiante, o mundo
de Roland de Gilead, o pistoleiro. Durante
uma viagem no tempo, o pistoleiro consegue evitar a morte de Jake, criando uma fenda na consciência
dos dois. Ambos vivem em seus respectivos mundos. Roland segue a partir da criação desta fenda a ouvir duas vozes. Uma
que diz que ele conhecera o garoto (para o garoto aparecer no mundo do
pistoleiro, ele precisaria estar morto em seu mundo – Nova York) e outra que
diz que ele não conhecera o garoto (o garoto estaria vivo em Nova York depois
que Roland teria voltado no tempo e
impedido o seu assassinato). Jake começa
a ouvir as vozes pouco antes de seu assassinato ser impedido. Enquanto caminha
em direção a sua escola, o garoto começa a ter um tipo de deja vu. Começa a lembrar de cada detalhe antes de sua morte na
medida em que caminha para o local onde morrera. Ao chegar ao cruzamento no
qual um cadilac azul o atropelara, Jake consegue
sentir duas mãos o empurrando, mas não passa do deja vu. A partir daí, as vozes começam. E ele passa a ter
alucinações e sonhos com o Mundo Médio. Mais adiante na página 180, a
personagem Jake encontra-se dentro de
uma livraria na qual compra dois livros: Charlie
Chu-Chuu e O que É o que É! Charadas
e Adivinhações para Todos! Outra vez, o romance usa da metalinguagem ao
descrever o cenário da sua obra: uma livraria. Dentro do segundo livro comprado
por ele, Jake entra em contato com um
enigma:
“Do comedor veio a carne e do
forte a doçura!” (P. 185).
Ao que segue no diálogo entre Jake e Aaron:
“- Quer dizer que a resposta é o leão – disse Jake. Aaron sacudiu a
cabeça.
-Só metade da resposta. O Enigma
de Sansão é um duplo, meu amigo. A outra
metade da resposta é mel. Sacou?” (P. 187).
Através do livro, Stephen King
usa de exemplos e comentários de personagens sobre esses livros para
apresentar, decodificar o código contido em seu próprio livro. Durante essas
páginas, o autor vai mostrando à/ao leitora/leitor e através da personagem Jake, que um enigma está surgindo em sua
história, na história da Torre Negra.