quinta-feira, 10 de maio de 2018

A LINGUAGEM ESTÉTICA DO PODER 2. Postado por Nilson Rocha.

Estruturas sociais são estruturas de poder, e o poder exige insígnias e rituais para ser respeitado. Como é abstrato antes de ser exercido, pura potência antes do ato, o poder exige concreções para ser reconhecido à primeira vista e ao primeiro som, ser temido e respeitado: necessita visibilidade, mesmo inconsciente. Necessita insígnias fabricadas com sinais, signos e símbolos. Por essa razão, as sociedades espetaculares tendem a produzir sociedades do espetáculo dada a força intimidatória que estes possuem. (Augusto Boal).

(The Walking Dead)

quarta-feira, 9 de maio de 2018

A LINGUAGEM ESTÉTICA DO PODER 1. Publicado por Nilson Rocha.



Os animais que, quase todos, se movem, lutam por um espaço ainda maior. Uma das principais funções do cérebro é organizar o movimento, e o movimento necessita espaço. Alguns animais marcam seus territórios pelo cheiro, como cães e lobos que urinam para que se saiba a quem pertence aquele espaço. Poderiam urinar a bexiga inteira em um só poste, um só tronco de árvore, mas preferem usar postes e árvores para demarcar seu mais extenso território. Os animais "privatizam" o espaço e o espaço privatizado é excludente: esta é a "minha" casa, o "meu" quintal, o "meu" latifúndio; não é a "tua" casa, o "vosso" quintal ou a "nossa" terra. não nosso ou vosso: é meu! Inicia-se a luta, feroz ou ardilosa, pelo espaço, que se tornou extensão do corpo do dono, seja leão, tigre ou, no campo, grileiros. o que acontece nas florestas e savanas com animais selvagens, acontece com latifundiários, na Bolsa de Valores com o cassino da especulação financeira. O dinheiro tudo compra, a começar pelo espaço onde vivemos, pela comida e água que nos permitem viver. Só não compra o ar que respiramos... mas polui! (Augusto Boal)

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Em comunhão dialético com a linguagem, comunica-se e transforma-se a realidade. Postado por Nilson Rocha.

Jean Renoir (1990, p 231) discute a realidade da obra de arte sob o ponto de vista de seus receptores: "Um grande poeta se situa no mundo que inventou. Vou mais longe: transforma o mundo e as pessoas com os produtos de sua imaginação. Oscar Wilde alegava que antes de Turner não existia nevoeiro em Londres. Estou convencido de que Wilde tinha toda razão". (p 138).


Uma das questões mais surpreendentes , no que diz respeito à natureza da verdade da arte, é que essa realidade com leis próprias, ao se desprender do mundo que lhe é externo, aproxima-se mais dele. O mundo, construído ao longo do processo criador, ultrapassa a realidade: canta a realidade e tem o poder de aumentar a compreensão do mundo. A obra de arte, na tentativa de revelar o mundo que o artista percebe, conhece e apreende, coloca seu receptor mais próximo da realidade que lhe é externa. (p 139).

Essas duas citações extraídas do livro "Gesto Inacabado. - Processo de criação artística", de Cecília Salles me remeteram ao pensamento de Augusto Boal quando o mesmo defende que em comunhão dialética e domínio da linguagem, o indivíduo é capaz de constatar, comunicar e transformar a realidade. Este pensamento também me remete a afirmação de Oscar Wilde ao dizer que a vida imita a arte. A física quântica lança questões interessantes sobre a força e o poder que a consciência, a imaginação, o pensamento e a ideia têm sobre a construção e criação de realidades. Através de uma intervenção artística realizada com o Grupo Célula, propus um jogo (para maior aprofundamento da intervenção, acessar a página https://pibiccelula-nilsonrocha.blogspot.com.br/search/label/relat%C3%B3rios e ler os seguintes tópicos: Caixa sensória – O objeto polissêmico, o relato; Caixa sensória – O objeto polissêmico, a Intervenção e Caixa sensória – Registro das obras de arte) no qual as pessoas que estavam transitando pelo espaço da intervenção criassem uma escultura a partir de objetos simbólicos espalhados em um marco zero. O objetivo era que através dessa superação e encurtamento da distância entre arte e indivíduo, a pessoa comunicasse sua percepção da realidade e ao ver sua obra pronta, constatasse sua realidade de maneira consciente. A transformação acontecia justamente na metáfora artística criada. A partir dali era com cada qual como elas e eles irião transformar nos seus cotidianos aquelas realidades expressadas em arte no sentido daquilo que as oprimiam.

Segue em anexo, duas fotos de como duas pessoas expressaram suas realidades a partir do recorte farmacêutico, sexual, de gênero, religioso, capitalista e educacional.


domingo, 13 de agosto de 2017

Publicado por Nilson Rocha.

"Quando certas pessoas vêem novas formas, exclamam queixosas: "Formalismo!", mas elas próprias são as piores formalistas, adoradas a qualquer preço das velhas formas, pessoas que só têm olhos para as formas, só cuidam delas, só delas fazem objeto de sua investigação. O não-saber-fazer, o não-saber-fazer-algo-de-determinado é realmente uma preconição para saber fazer algo de diferente." (BRECHT)

"Cresci como filho de pessoas bem situadas. Meus pais puseram-me um colarinho e educaram-me nos costumes do ser-servido e ensinaram-me a arte de dar ordens. Mas quando cresci e olhei em torno de mim, as pessoas de minha classe não me agradaram, nem o dar-ordens nem o ser-servido. E eu abandonei minha classe e juntei-me às pessoas inferiores." (BRECHT)

sábado, 12 de agosto de 2017

Aplicação da metalinguagem no livro: "A Torre Negra III, As Terras Devastadas", de Stephen King.

“- E é muitíssimo importante que todos vocês leiam O Senhor das Moscas – dizia a Sra. Avery com sua voz clara mas um tanto monótona. – E quando o fizerem, devem fazer-se algumas perguntas. Um bom romance é muitas vezes uma série de enigmas dentro de enigmas, e esse é um romance muito bom, um dos melhores escritos na segunda metade do século XX. Portanto, perguntem-se primeiro qual o significado que a concha marinha pode ter. Segundo...” (KING, Stephen. A Torre Negra III, As Terras Devastadas. P. 156).

Neste trecho retirado do volume III, da série A Torre Negra, temos uma aplicação de metalinguagem. Aqui, o autor usa da linguagem escrita e verbal (da língua) para decodificar o código dessa mesma linguagem. Através de um romance escrito, o autor afirma que um bom romance é aquele que traz em si enigmas dentro de enigmas. Essa fala é da professora de redação da personagem Jake, um garoto de 11 anos. Jake vem ouvindo duas vozes há duas semanas. Uma diz que ele morreu e a outra diz que ele está vivo. As vozes parecem não parar de falar e Jake acha que está perto de enlouquecer. Jake morrera atropelado ao ser empurrado num cruzamento intencionalmente, em seu próprio mundo de Nova York entre 1970-1980 e renasceu no Mundo Médio, o mundo que seguiu adiante, o mundo de Roland de Gilead, o pistoleiro. Durante uma viagem no tempo, o pistoleiro consegue evitar a morte de Jake, criando uma fenda na consciência dos dois. Ambos vivem em seus respectivos mundos. Roland segue a partir da criação desta fenda a ouvir duas vozes. Uma que diz que ele conhecera o garoto (para o garoto aparecer no mundo do pistoleiro, ele precisaria estar morto em seu mundo – Nova York) e outra que diz que ele não conhecera o garoto (o garoto estaria vivo em Nova York depois que Roland teria voltado no tempo e impedido o seu assassinato). Jake começa a ouvir as vozes pouco antes de seu assassinato ser impedido. Enquanto caminha em direção a sua escola, o garoto começa a ter um tipo de deja vu. Começa a lembrar de cada detalhe antes de sua morte na medida em que caminha para o local onde morrera. Ao chegar ao cruzamento no qual um cadilac azul o atropelara, Jake consegue sentir duas mãos o empurrando, mas não passa do deja vu. A partir daí, as vozes começam. E ele passa a ter alucinações e sonhos com o Mundo Médio. Mais adiante na página 180, a personagem Jake encontra-se dentro de uma livraria na qual compra dois livros: Charlie Chu-Chuu e O que É o que É! Charadas e Adivinhações para Todos! Outra vez, o romance usa da metalinguagem ao descrever o cenário da sua obra: uma livraria. Dentro do segundo livro comprado por ele, Jake entra em contato com um enigma:

“Do comedor veio a carne e do forte a doçura!” (P. 185).

Ao que segue no diálogo entre Jake e Aaron:

“- Quer dizer que a resposta é o leão – disse Jake. Aaron sacudiu a cabeça.
-Só metade da resposta. O Enigma de Sansão é um duplo, meu amigo. A outra metade da resposta é mel. Sacou?” (P. 187).


Através do livro, Stephen King usa de exemplos e comentários de personagens sobre esses livros para apresentar, decodificar o código contido em seu próprio livro. Durante essas páginas, o autor vai mostrando à/ao leitora/leitor e através da personagem Jake, que um enigma está surgindo em sua história, na história da Torre Negra.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Postado por Nilson Rocha.

“Num certo sentido, poder-se-ia dizer que todo o caráter é cômico desde o momento que entendamos por caráter aquilo que há de feito na nossa pessoa, aquilo que em nós existe em estado de mecanismo que uma vez montado é capaz de funcionar automaticamente. Se quisermos: aquilo em que nos repetimos e, por consequência, aquilo em que os outros poderão repetir-nos. A personagem cômica é um tipo. Inversamente, a parecença com um tipo tem qualquer coisa de cômico.” (BERGSON. ‘O Riso – Ensaio sobre o significado do cômico’. pg. 106).

quinta-feira, 24 de março de 2016

Postado por Nilson Rocha.

“Todos esses objetos são muito diferentes, mas todos eles nos sugerem, poder-se-ia dizer, a mesma visão abstrata: a dum efeito que se propaga, aumentando-se a si próprio, de maneira que a causa, insignificante na origem, vem a redundar, por um progresso, necessário, num resultado tão importante como imprevisto.” (BERGSON. O riso - ensaio sobre o significado do cômico. pg. 65).

“(...) o mecanismo que acabamos de descrever já é cômico quando é retilíneo, mas é ainda mais quando se torna circular e quando os esforços da personagem, por uma engrenagem fatal de causas e de efeitos, têm como resultado final trazê-la pura e simplesmente ao mesmo sítio.” (BERGSON. O riso - ensaio sobre o significado do cômico. pg. 65).